
Dom João Carlos Seneme é bispo da Diocese de Toledo
A liturgia deste domingo (21/06) nos coloca no mesmo ambiente de domingo passado. Jesus escolheu discípulos para estar com ele e aprender dele o caminho do discipulado. Eles aceitaram o chamado e agora serão enviados ao mundo a fim de continuarem a obra libertadora e salvadora de Jesus. Antes de partir, porém, eles serão instruídos e preparados para a missão.
O texto do evangelho é de São Mateus. Ele apresenta uma espécie de “manual do missionário cristão”. A atividade missionária é parte integrante e decisiva da vida cristã.
Jesus alerta os apóstolos que a missão pode vir acompanhada de perseguições e incompreensões. Por três vezes Jesus repete “Não tenhais medo”. Ao mesmo tempo, ele garante que estará sempre ao lado dos apóstolos em todos os lugares e em todo o tempo. Contudo, eles mesmos deverão percorrer este caminho.
O medo nasce de várias causas, mas na origem há sempre um sentimento de inadequação e sensação de fragilidade e incapacidade. O profeta Jeremias dizia a Deus que não era capaz, não sabia falar porque era muito jovem. Deus, por sua vez, lhe garante que estará ao seu lado como um forte guerreiro. Desta forma, o profeta vai denuncia o mal e anuncia a boa nova. Da mesma forma, Jesus assegura aos seus discípulos sua presença, ajuda, proteção, a fim de que eles superem o medo e a angústia que resultam da perseguição.
O próprio Deus é quem garante a palavra anunciada. Nas palavras dos discípulos há uma força explosiva que vem de Deus. Nenhuma perseguição, nenhum atentado poderá impedir a proclamação e o conhecimento da mensagem. É obra de Deus. Não pode ficar escondida, deverá ser proclamada nos telhados.
O poder dos homens é limitado, eles não controlam a vida e morte, somente Deus pode decidir o que acontecerá com cada um. O temor reverencial de Deus, juiz supremo, ajudará os missionários a superar o medo da morte física, confiando na providência do Pai e confessando impavidamente Jesus Cristo diante de todos.
Deus é um Pai cheio de amor e de ternura, sempre preocupado em cuidar dos seus filhos. O evangelista Mateus apresenta a imagem de um pequeno pássaro que passa despercebido para muitos, não para Deus que cuida dele com carinho. Outra imagem é a dos cabelos da cabeça que são incontáveis, mas não para Deus que estão todos contados e um não cai sem a sua permissão. Não há nada – absolutamente nada – que não esteja sob o olhar e o poder de Deus. Da mesma maneira Deus é zeloso com os seus filhos e filhas.
Quem descobriu o amor de Deus se entrega generosamente na vida de fé. A certeza de ser filho sustenta a capacidade do discípulo em empenhar-se – sem medo, sem prevenções, sem preconceitos, sem condições – na missão. Nada – nem as dificuldades, nem as perseguições – conseguem calar esse discípulo que confia na solicitude, no cuidado e no amor de Deus Pai.
Dom João Carlos Seneme, css
Bispo de Toledo