
Serviço de limpeza e lavagem gera emprego informal e renda no cemitério municipal
Cerca de 10 mulheres garantem o sustento de casa fazendo o serviço de lavagem de túmulos no Cemitério Municipal Jardim da Paz em Assis Chateaubriand.
Elas trabalham meio período, durante a semana inteira, com vassouras, buchas, mangueiras, águas e sabão, fazendo a faxina da mesma forma que se faz em casa. Em alguns túmulos, usam até materiais que dão brilho nas pedras de mármore. Tudo para que as sepulturas fiquem limpas, o ano inteiro.
Quem paga pelos serviços são os responsáveis pelas sepulturas, normalmente parentes das pessoas nelas sepultadas. Com alguém cuidado da manutenção e limpeza, as famílias ficam tranquilas mesmo a distância, quando não podem fazer visitas constantes ao cemitério.
O preço varia conforme o tamanho e tipo de jazigo, que vai de R$ 40 a R$ 100 por mês. Outubro tem o maior faturamento, por antecipar um maior número de túmulos lavados por conta do Dia de Finados, que ocorre em 02 de setembro. “Vem muita gente de fora e com isso os extras”, salienta Valderlícia Maciel Camargo, que faz esse trabalho há 17 anos.
Tendo o cemitério como um emprego de onde chega a faturar um bom salário, Val, como é chamada, prefere não revelar, mas conta que tem em contrato cerca de 100 túmulos sob sua responsabilidade de limpeza. Ela conta que a pandemia não atrapalhou em nada seu faturamento.
Em 2009, fizemos no jornal O Regional uma matéria semelhante, onde também conversamos com Valderlícia e algumas colegas. Ela conta que, de lá para cá, houve um aumento considerável no número de pessoas que as procuram para a limpeza de jazigos.
Segundo Val, elas não fazem publicidade do serviço, tudo corre por conta dos contatos no próprio cemitério quando de visitas, principalmente nos finados, ou pelo conhecido “boca a boca”, por parte de quem já contratou o trabalho delas.
A maioria das pessoas que contrata esse serviços mora em outras cidades, até mesmo de países distantes. “A gente cuida o ano todo e eles confiam na gente”, garante ela.
Solange de Fátima Correia faz o mesmo trabalho. Ela diz que não há concorrências nem desavenças para garantir serviços. “Aqui tem pra todo mundo”, afirma, fazendo questão de destacar que adora o que faz e não trocaria por outro trabalho tão facilmente.
Sobre as formas de pagamento da limpeza, Solange conta que alguns clientes pagam adiantado por 6 meses ou por um ano e há aqueles com pagamentos fixos mensais.
Ivanete Avelar Correa completa o trio dessa equipe de amigas que preferem trabalhar juntas, para render o serviço, segundo elas. Enquanto duas vão de vassoura, escova e sabão, a terceira opera a mangueira de água. “Num instante está tudo limpinho”, garante Ivanete.
Sabendo que o cemitério é um lugar onde as pessoas precisam ter cuidados maiores com relação a contaminações por bactérias, elas afirmam que são vigilantes o tempo todo. Com a pandemia, dizem tomar cuidados ainda maiores. Além de botas e luvas, agora as máscaras fazem parte das indumentárias.
Não poderia terminar a conversa com as mulheres que trabalham no cemitério sem fazer a pergunta mais comum para quem trabalha num local onde a população é de mortos: Como ficam muito tempo aqui ao redor de túmulos, com contato direto, já viram alguma “alma penada” ou coisa estranha?
“Não” – respondem. As três entrevistadas garantem que, mesmo trabalhando muitas vezes à noite no cemitério, nunca viram nada de sobrenatural, mas que é comum encontrar “trabalhos” de macumba entre as sepulturas. “Galinha morta, talheres, bebidas e velas pretas, a gente encontra sempre por aqui”, afirma uma delas.