
Um dos galhos poupados para preservar ninhos de pássaro: consciência [foto: Clóvis de Almeida]
Conscientização impede jardineiro de completar serviço. Essa frase está muito longe de ser uma crítica ou chamar a atenção para um serviço mal feito. Pelo contrário, essa é uma das vezes em que um trabalho incompleto está absolutamente certo, digno de reconhecimento e aplausos. Para resumir em poucas palavras, um jardineiro foi incumbido de podar duas árvores, mas em ambas deixou um galho no alto porque em cada uma delas havia um ninho de pássaro. Flagrante da reportagem no Jardim Jussara, na semana passada.
Para muitos, pode não significar nada, porém, é um detalhe que demonstra o nível de conscientização da pessoa que realizou a poda, ao deixar incompleta uma tarefa para preservar os ninhos, os ovos dos pássaros, o trabalho dos bichinhos e a natureza como um todo.
Seria um ato comum se não tivéssemos num passado bem próximo, o histórico da destruição por prazer, quando atirar pedras em aves era uma das diversões preferidas de crianças e marmanjos. Não faz muito tempo, havia lojas que vendiam estilingues e arapucas. Pais e irmãos mais velhos passavam aos mais novos a cultura de como fazer armadilhas para capturar pássaros, que, tirados da natureza, eram engaiolados em casa, onde muitos passavam fome e viravam mistura do almoço quando o caçador descobria que eles não cantavam quando presos.
Em 2016, neurocientistas pesquisadores do mundo todo se uniram para assinar um manifesto que admitia a existência da consciência em animais. Liderou o estudo, o neurocientista canadense Philip Low, que ganhou destaque no noticiário científico depois de apresentar o projeto em parceria com o físico Stephen Hawking. No manifesto, os neurocientistas afirmam que todos os mamíferos, aves e outras criaturas, incluindo polvos, têm consciência.
Para uma raça humana que não consegue justificar o nome que tem e inclui o prazer de matar por matar, a afirmação de que animal tem sentimentos, por parte de cientistas, foi um grande avanço, em todos os níveis, onde se destaca a consciência.
O documento afirma que “as áreas do cérebro que nos distinguem de outros animais não são as que produzem a consciência. Estudos sobre o comportamento animal já afirmam que vários animais possuem certo grau de consciência. Descobriram que as estruturas que nos distinguem de outros animais, como o córtex cerebral, não são responsáveis pela manifestação da consciência. Resumidamente, se o restante do cérebro é responsável pela consciência e essas estruturas são semelhantes entre seres humanos e outros animais, como mamíferos e pássaros, concluímos que esses animais também possuem consciência”.
Isso significa que estamos mais próximos dos bichos.
Porém, independente de eles terem ou não consciência, o homem tem por obrigação proteger os animais, e o ato do jardineiro em poupar os ninhos não é uma notícia bobinha, mas um ato de exemplo, digno de aplausos.